segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"FUTEBOL É O DESPORTO DAS MULHERES"

Jerry Silva é vice-presidente da AF Porto, docente universitário e advogado.
Com a ideia segundo a qual o "Futebol é o desporto das mulheres", Karen Espelund, Presidente do Comité da UEFA para o Futebol Feminino, abriu recentemente, em Oslo, as "hostilidades" em defesa do futebol como desporto amado, praticado e desejado pela esmagadora maioria das mulheres.
Inegavelmente, o futebol de onze, sete, ou cinco, congrega as maiores paixões e ódios do fenómeno desportivo, sendo igualmente um elemento que envolve o maior número de agentes desportivos, adeptos, simpatizantes e interessados.
Espelund, que jogou na selecção nacional da Noruega nos anos 80, é uma das principais figuras do futebol feminino e tem sido decisiva na extraordinária subida do seu nível na década passada. "O futebol é o desporto número um para as raparigas, como é também para os rapazes". Na verdade, a evolução social e o manifesto papel, positivo, de emancipação feminina demonstra que as mulheres, qualquer que seja a vertente, bebem uma extraordinária disponibilidade em prol dos ideais que sustentam.
No contexto do futebol, assente o feminino, ainda, em pressupostos perfeitamente ultrapassados e aculturais, a sua evolução sustentada pela liderança da FIFA e da UEFA, permite consagrar a variante feminina com uma dimensão muito considerável.
Relata Espelund que "Nunca mais me vou esquecer que, aos sete anos, me disseram que as raparigas não deveriam jogar futebol. Não queria acreditar no que estava a ouvir. Eu costumava jogar na rua com os rapazes e gostava tanto de jogar como qualquer rapaz. Tudo aquilo não me parecia justo. Desde aí, tudo fiz para provar que aquelas palavras estavam erradas".
Em boa verdade a realidade factual, assente em dados estatísticos indesmentíveis, demonstram que, por exemplo, na Noruega o futebol feminino está mais forte que nunca, ascendendo a 95 mil praticantes, no ano transacto.
Ora, a Noruega um dos países mais evoluídos do velho continente, é detentora de um verdadeiro fenómeno de popularidade no que diz respeito ao futebol feminino, sendo que já venceu o Campeonato do Mundo da FIFA de 1995 e continua, ainda, a ser uma das potências do jogo. A classificação oficial da FIFA, atribui-lhe a nível mundial o terceiro lugar, numa tabela liderada pela Alemanha e seguida de imediato pelos Estados Unidos da América. A vertente feminina, atenta a sua importância, contempla provas internacionais de indesmentível dimensão. Para além do Campeonato Mundial de seniores masculinos, tratando-se o futebol feminino de uma modalidade olímpica, registe-se a realização do Mundial -sub 19, cujo início terá lugar no correr do presente mês na Tailândia. O sucesso destes eventos, tem merecido rasgada atenção, em particular, de Blatter, o qual confrontado com o facto de a lotação para a final do Mundial sub-19 estar completamente esgotada, não escondeu o seu espanto e satisfação.
Note-se que, a título de curiosidade, o Mundial sub-19 tem como patrocinadores oficiais, marcas tão importantes como "Mastercard", "Adidas", "Coca-Cola", "Hyundai", "Deutsche Telecom", "Acer" ou "FlyEmirates", actual patrocinador do Chelsea e que se encontra envolvida na milionária "aquisição" do nome "Highbury Park" atribuindo ao Estádio do Arsenal, que passará a acolher aquela denominação nos próximos anos. Ou seja, se ainda surgem pensamentos vesgos em relação à participação e adesão feminina por todo o mundo no futebol, particularmente de onze, organizações desta natureza, o número de praticantes e os próprios patrocinadores envolvidos serão por si só suficientes para encarar e enquadrar o mesmo com uma pertinência consolidada. O futebol é uma indústria múltipla, global e não só masculina.
Acresce que o futebol feminino a nível europeu e mundial, tal como sucede em qualquer potência digna de tal epíteto, encerra as suas bases em elevado investimento e consolidação na área da formação e iniciação desportivas. A UEFA, com o espírito arejado, constatou em 2003 um enorme aumento da adesão aos Campos de Férias para Futebol, introduzidos por Robin Russell, coordenador técnico da Federação Inglesa de Futebol. Assim, mais de 400 mil crianças frequentam todos os anos campos de férias em Inglaterra e Russell, que ingressou na FA em 1978 como treinador, acredita que eles podem ter um papel importante no crescimento do desporto, acrescentando que "Se a estrutura da organização dos campos for bem feita, eles serão um sucesso. Ora nos Estados Unidos, mais de cinco milhões de crianças frequentam campos no verão para jogar futebol e um dos factores do sucesso destes campos é que as crianças estão em segurança. Se conseguirmos mostrar que o mesmo se passa aqui, então eles serão também populares aqui na Europa", disse Russell.
A nível nacional, não podemos de imediato acompanhar a pujança que se manifesta nomeadamente no Norte da Europa.
Depois da reestruturação dos quadros competitivos aprovados em Assembleia-geral da F.P.F., com a criação de divisões no escalão sénior, terá sido dado um pequeno passo no sentido de injectar um factor de evolução competitiva, não obstante o amorfismo em que vive o futebol feminino nacional.
Ao nível do futsal feminino, a imperiosa discussão e organização de um campeonato nacional, integra um conjunto de medidas estratégicas que deve imperar para a contínua evolução e crescimento da variante, confrontada com elevadas dificuldades na organização de campeonatos nos escalões de formação e ausência de competição internacional. Entretanto, apesar da despedida, nos Jogos Olímpicos de Atenas, repleta de êxito das "Fab Five", nos Jogos Olímpicos de Atenas, expressão atribuída às cinco estrelas do futebol feminino dos Estados Unidos (Mia Hamm, Kristine Lilly, Julie Foudy, Brandi Chastain e Joy Fawcett ), espera-se a confirmação do espectáculo de altíssimo nível que se desenrolará na Tailândia, bem como o evoluir das selecções do México, Nigéria, Japão, Austrália, e do Brasil, com especial destaque para esta última, na qual o "samba" da coqueluche Marta, parece capaz de conquistar em breve o trono de Mia Hamm.Sem dúvida alguma, o futebol, mais do que um desporto dos homens, é por mérito próprio um desporto das, e para, as mulheres.

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