quinta-feira, 8 de abril de 2010

FINAL DA TAÇA PORTUGAL FEMININA

FESTA NO FEMININO

Rosa Mota, Bé, Amândio de Carvalho, Elza Pais e Nuno Cristóvão mostram o cartão vermelho à violência doméstica
A sede da Federação Portuguesa de Futebol recebeu, esta quinta-feira, a Conferência de Imprensa de apresentação da VII Final da Taça de Portugal de Futebol Feminino, que pretende ser uma verdadeira festa do Desporto no Feminino.
Na sessão – que contou com as presenças do Vice-Presidente da FPF, Amândio de Carvalho, da Secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, da campeã olímpica, Rosa Mota, além dos treinadores dos dois emblemas finalistas, Nuno Cristóvão (1º de Dezembro) e Anabela Silva “Bé” (Boavista) –, Amândio de Carvalho revelou que a realização da Final da Taça Feminina no Jamor “é o concretizar uma velha aspiração da FPF”, que em outras épocas já tinha tentado realizar o jogo decisivo da competição no Vale do Jamor.
“Queremos dar um novo fôlego e uma nova visibilidade à competição e ao próprio Futebol Feminino Português e, também por isso, foi criada uma nova imagem e identidade para o Futebol Feminino”, prosseguiu, sublinhando que “a FPF fez um esforço importante para dar aos clubes participantes e equipa de arbitragem todas as condições para disputarem a Final, nomeadamente através da disponibilização de Hotéis para a véspera e dia de jogo”.
O Vice-Presidente Federativo não esqueceu um agradecimento especial ao Governo, nas figuras da Secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, e do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, por todo o apoio e empenho dado, bem como ao Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia que permitiu, por exemplo, a deslocação em autocarro até ao Jamor de todas as equipas que participaram nas eliminatórias da presente edição da Taça de Portugal.
Por seu lado, Elza Pais louvou a iniciativa da FPF e apresentou a campanha “Mostra o cartão vermelho à violência doméstica”, no âmbito do Movimento “Maltrato zero”. A responsável governamental apelou à “presença maciça de mulheres e homens no Estádio Nacional” e mostrou-se convicta que os espectadores assistirão a “um grande espectáculo”.
Também presente na Conferência de Imprensa, a campeã olímpica, Rosa Mota, lembrou o caminho difícil que as mulheres têm percorrido na luta pela igualdade de género no Desporto e mostrou-se entusiasmada com a realização da Final da Taça Feminina no Jamor. “Apelo a todas as mulheres, jovens e crianças para que encham o Estádio Nacional e façam do jogo uma grande festa, sem violência, provando que o Deporto pode e deve ser vivido com respeito”, referiu.
Os treinadores das duas equipas, Nuno Cristóvão e Bé, sublinharam o agrado com que vêm a realização do jogo no Jamor e mostraram a ambição de erguerem o troféu.

Nuno Cristóvão
“Cereja no topo do bolo”

Nuno Cristóvão em entrevista
fpf.pt: Qual a importância que tem, para as jogadoras e para si, o facto desta Final da Taça de Portugal ser disputada no Estádio Nacional?
Nuno Cristóvão: O facto da Final ser disputada no Jamor revela-se de grande importância. Na nossa equipa existem várias jogadoras que se vão despedir esta época e que deram muito ao Futebol Feminino – não só ao 1º de Dezembro, como à Selecção Nacional. São jogadoras de uma elevadíssima experiência e com grande maturidade. Esta presença na Final da Taça de Portugal, no Estádio Nacional representa para as jogadoras, para o Clube e para mim, a cereja no topo do bolo. Pessoalmente, desde pequeno que tinha essa ambição de poder estar no Estádio Nacional como intérprete activo do jogo e acabei por concretizar esse sonho. Trata-se de um local, como já temos dito várias vezes, mítico e com muito simbolismo. Quanto mais não seja, esse simbolismo e essa equiparação ao Futebol Masculino e à Final da Taça de Portugal Masculina tem um peso muito grande e por isso tenho de dar os parabéns à Federação Portuguesa de Futebol. Esta decisão, na minha perspectiva, é um passo muito grande na divulgação e desenvolvimento do Futebol Feminino.

fpf.pt: Pelo seu historial e pelo percurso efectuado pelo 1º de Dezembro esta época, pode dizer-se que a sua equipa é favorita a vencer a prova?
Nuno Cristóvão: Assumo essa posição. No entanto, estamos na Final da Taça e numa final existem dois contendores, duas equipas que a podem ganhar. Na minha perspectiva, qualquer equipa pode vencer e se estivesse do outro lado era isso que diria às jogadoras – que existem 50% de possibilidades de vitória para cada equipa. Naturalmente que, face a um passado recente, a esmagadora maioria das pessoas diz que o 1º de Dezembro é um claro favorito. Temos que respeitar esta posição. Mas se não respeitarmos o Boavista, estamos a dar armas muito grandes ao adversário no sentido de perdermos esta Final e é isso que nós não queremos.

fpf.pt: O que é que a sua equipa precisa de fazer para vencer esta Final?
Nuno Cristóvão: Vamos ter de respeitar muito o adversário, sabendo da nossa qualidade e procurando impô-la em jogo. Só no final dos 90 ou dos 120 minutos é que se pode dizer que a nossa equipa foi melhor do que a outra. Trata-se de um jogo e ele decide-se em campo. Da mesma forma que existem elevadíssimos índices de motivação da nossa equipa, por motivos de vária ordem, certamente que na equipa do Boavista esses índices serão ainda maiores. Temos de saber, de uma forma muito clara, aquilo que queremos e podemos fazer. Vamos jogar e desfrutar desta Final, tirando o máximo prazer do jogo, esperando que tudo corra da forma que gostaríamos.

Trajecto até à final
Nuno Cristóvão acedeu analisar cada uma das partidas do percurso até à final:

3ª Eliminatória – Oitavos-de-Final
10.01.2010 S Marítimo Murtoense 0-4 SU 1º Dezembro
“O nosso primeiro encontro para a Taça [diante do Marítimo Murtoense, a 10 de Janeiro de 2010] realizou-se numa altura em que a equipa atravessava um momento excepcional – fez dois golos na primeira parte, controlando por completo o jogo. A equipa soube gerir essa vantagem até porque, na jornada anterior a esse jogo, tínhamos jogado diante da mesma equipa e já tínhamos conhecimento do que iríamos encontrar. À semelhança do que foi feito ao longo da época, fui gerindo a equipa e acabou por ser uma vitória tranquila onde o mais difícil foi fazer o primeiro golo.”

4ª Eliminatória – Quartos-de-Final
07.02.2010 UD Oliveirense 0-3 SU 1º Dezembro
“Neste jogo, o resultado foi, na minha perspectiva, algo enganador. O resultado pode dar a sensação houve uma clara supremacia do 1º de Dezembro, o que não foi verdade. A primeira parte, apesar do maior pendor ofensivo da nossa equipa, foi equilibrada e fomos para o intervalo sem golos. Os primeiros minutos do segundo tempo foram decisivos com a obtenção de dois golos por parte da nossa equipa. Jogámos num campo muito difícil, pois as gentes de Oliveira de Azeméis acompanham fortemente a sua equipa e emprestam um grande ambiente em volta do jogo.”

5ª Eliminatória – Meias-Finais
20.03.2010 Escola FC 0-0 (3-5 gp) SU 1º Dezembro
“No encontro das meias-finais ficámos a dever a nós próprios não termos conseguido a vitória mais cedo. O Escola FC é, claramente, uma excelente equipa, muito bem orientada e com excelentes jogadoras. Foi um jogo disputado sob um grande ambiente. À medida que o jogo foi decorrendo, fomos criando sucessivas oportunidades de golo sem marcar, dando moral à equipa adversária. Tivemos de esperar pelas grandes penalidades para decidir a eliminatória a nosso favor. Tratou-se de uma vitória merecida, mas muito custosa.”

Currículo
Nuno Cristóvão assumiu os comandos do 1º de Dezembro no início da presente época. Com uma forte ligação ao Futebol Feminino, o técnico licenciado em Educação Física, pelo ISEF, treinou a equipa do GS Carcavelos (ao serviço do qual ganhou, na época de 1986/87, o título de campeão distrital de Lisboa) durante duas épocas e, entre 2000 e 2004, comandou as selecções femininas em 55 encontros (40 AA, 8 Sub-19 e 7 Sub-18). Nuno Cristóvão, nascido 10 de Fevereiro de 1959, em Lisboa, treinou também em escalões de formação masculinos de vários clubes – Odivelas FC, CD Olivais e Moscavide, CF Os Belenenses, CF Estrela da Amadora, CAC da Pontinha e SL Benfica.


Anabela Silva
"Motivação maior
"

Bé em entrevista
fpf.pt: Qual a importância que tem, para as jogadoras e para si, o facto desta Final da Taça de Portugal ser disputada no Estádio Nacional?
Bé: A escolha do Estádio Nacional para acolher a Final tem uma importância máxima. Não pode haver maior motivação para uma atleta que joga futebol do que representar uma Selecção Nacional, ser campeã nacional e jogar no Jamor. É um palco histórico para qualquer atleta e esta edição tem um significado especial porque é a primeira vez que a Taça se disputa neste local. Estas jogadoras vão fazer, por isso, história. Por outro lado, vão encontrar-se os dois clubes históricos do Futebol Feminino Português. No caso do Boavista, este jogo surge num momento em que o clube está a iniciar um ciclo novo, com novas e jovens jogadoras e esta final acrescentará mais responsabilidade e ainda maior motivação.

fpf.pt: Pelo seu historial e pelo percurso efectuado pelo 1º de Dezembro esta época, pode dizer-se que a formação de Sintra é favorita a vencer a prova?
Bé: Temos consciência de que quem olha para o “cartaz” da Taça pode ficar tentado a “entregar”, desde logo, o troféu ao 1º de Dezembro. Somos realistas e sabemos que o 1º de Dezembro é melhor equipa, neste momento, disputou 18 jogos para o Campeonato e venceu-os a todos, com muito poucos golos sofridos. Reconheço que – por tudo isto – é o grande favorito. No entanto, quem vai para uma final, não a encara para perder e nós não estaremos no Jamor para perder. Queremos ganhar a Taça!

fpf.pt: O que é que a sua equipa precisa de fazer para vencer esta Final?
Bé: O facto de o jogo ser disputado no Estádio Nacional e o facto de esta ser a primeira Final da Taça para 99 por cento das nossas atletas podem funcionar como factores adicionais de motivação. O 1º de Dezembro já ganhou muitas Taças e muitos Campeonatos nos últimos anos e, se calhar, vai entrar em campo com a ideia de que já nos venceu por duas vezes esta época e que fará o mesmo no Jamor. As jogadoras do Boavista têm muita vontade de ganhar o primeiro troféu da sua carreira e de se mostrarem. Esta é uma grande oportunidade para que as nossas jogadoras possam ganhar alguma coisa. A motivação, a juventude, o querer e a forma como temos trabalhado podem ser pontos a nosso favor.

Trajecto até à final
Bé acedeu a analisar cada uma das partidas do percurso até à final:

3ª Eliminatória – Oitavos-de-Final
10.01.2010 Escola FF Setúbal 0-0 Boavista FC (2-4, g.p.)
“Foi um jogo difícil, em que dominámos os diferentes aspectos da partida, mas que não conseguimos marcar. Desperdiçámos muitas oportunidades de golo, diante de um adversário muito fechado que procurou levar a partida para as grandes penalidades. Curiosamente, começámos mal a transformação dos castigos máximos e o Escola adiantou-se na eliminatória, mas conseguimos dar a volta e seguir em frente na Taça”.

4ª Eliminatória – Quartos-de-Final
28.02.2010 FC “Os Belenenses” 0-1 Boavista FC
“Voltámos a jogar fora, num encontro que teve um cariz similar ao anterior. Foi mais uma partida muito discutida, com poucas ocasiões de golo, mas – tal como aconteceu no jogo anterior – o Boavista foi mais forte e teve sempre a iniciativa do jogo. O golo da nossa capitã, Figo, apenas deu expressão e justiça ao resultado final”.

5ª Eliminatória – Meias-Finais
20.03.2010 Boavista FC 1-0 Cadima
“Encontrámos, nas meias-finais, um adversário a quem ainda não tínhamos conseguido ganhar esta época, o Cadima. Pela primeira vez, jogámos no relvado do Estádio do Bessa o que, por si só, já representou uma enorme recompensa pelo esforço que as nossas atletas fizeram ao longo da temporada. Nas duas partidas realizadas para o Campeonato, empatámos ambas a zero bolas. E este jogo voltou a ser muito equilibrado. Foi um jogo complicado e muito disputado, tal como havíamos previsto. Construímos as melhores ocasiões e fomos justas vencedoras. Acabou por ser um prémio merecido por todo o trabalho que temos efectuado ao longo da época”.

Currículo
Anabela Fernanda Pinto Silva, conhecida no mundo do futebol como Bé, está a cumprir, esta época, o primeiro ano como treinadora principal precisamente no clube onde, com 14 anos, iniciou a sua actividade como jogadora, o Boavista. Numa carreira recheada de sucessos, Bé coleccionou sete títulos de campeã nacional com a camisola das “axadrezadas”, a que se juntaram os troféus conquistados ao serviço do Lobão (um) e do Gatões (três). Merelinense e Várzea foram os outros clubes pelos quais jogou, tendo pela formação barcelense disputado uma final da Taça, na temporada 2004/2005, que viria a perder para o Marítimo Murtoense. Nascida a 26 de Dezembro de 1970, é impossível falar no percurso futebolístico de Bé sem lembrar as 78 internacionalizações que somou com a camisola da Selecção Nacional, 48 das quais envergando a braçadeira de capitã, e os cinco golos apontados pela Equipa das Quinas. A própria treinadora não esconde “o enorme prazer” que lhe deu “defender as cores do País”, numa trajectória que classifica como “marcante”.

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